Inteligência Artificial: Perguntas Frequentes

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A Inteligência Artificial vai substituir os gestores?

Não exatamente.

Muitas vezes, quando uma nova tecnologia ou um novo conceito surgem, eclodem notícias falando sobre o que vai acabar, ou sobre o que vai morrer. Este tipo de abordagem chama muito a atenção, mas nem sempre é o caminho mais adequado.

As mudanças, na maioria das vezes, atuam como elementos de transformação, não de eliminação.

É fato que tecnologias emergentes como Inteligência Artificial, IoT e Blockchain, quando combinadas, trazem um grande potencial para diminuição do papel dos intermediários e atravessadores. Desta forma, um gestor que atua simplesmente como um atravessador/intermediário de informações tem seu emprego em xeque.

Mas olhando de uma forma mais abrangente, a tendência é que passemos a ter melhores gestores, com maior acesso a informação, com maior capacidade de análise de problemas complexos e com mais ferramentas para simulação de cenários, tudo isto apoiado por novas tecnologias, como a Inteligência Artificial.

 I.A. já é mais criativa que o cérebro humano?

Não exatamente.

A nossa dificuldade em descrever os valores humamos é uma das maiores dificuldades para se desenvolver uma Inteligência Artificial que os respeite. E aqui temos mais um desafio: O que é criatividade?

Se considerarmos a criatividade como a capacidade de conectar elementos e ideias de forma inédita ou rara, sim uma Inteligência Artificial pode estudar quais elementos que, quando combinados, irão estimular de maneira mais eficiente uma determinada emoção em um ser humano. Já temos exemplos de aplicação de Inteligência Artificial em atividades ligadas à criatividade, como álbum “Hello World”, do projeto SKYGGE, onde a aplicação de Inteligência Artificial sugeria melodias, harmonias e timbres aos compositores, ou nas “pinturas” do Deep Mind, ou no trailer do filme Morgan feito por uma Inteligência Artificial.

Ocorre que esta automação pode ser vista como mais uma ferramenta criada pelo ser humano, que sim irá fazer parte do nosso atual trabalho, mas também será capaz de destravar novas habilidades e expandir os limites do que chamamos hoje de criatividade.

A robótica será capaz de substituir humanos em todas as atividades, inclusive, as complexas?

Não exatamente.

Gerd Leonhard, futurista alemão, diz que “Se você consegue descrever seu trabalho, ele pode ser automatizado.” Em outras palavras, se as suas atividades podem ser descritas como uma sequência de passos, ela pode já estar na mira. Atividades mais complexas que requerem entendimentos mais profundos e análise de contexto estão mais longe de serem automatizadas. Ainda assim, a tecnologia tem evoluído a passos largos. A capacidade de análise de correlações que é inerente aos sistemas de Inteligência Artificial está apenas engatinhando em suas aplicações.

Um estudo publicado pela Universidade de Oxford afirma que das 702 profissões analisadas, 47% tem potencial para serem automatizadas. De toda forma, a máxima da transformação também vale aqui: Muitas destas profissões não deixarão de existir, mas passarão a atuar de uma nova forma, com o apoio da tecnologia.

I.A. pode ajudar pequenas e médias empresas a conseguirem novos clientes ao identificar oportunidades com mais chance de fechar negócio?

Sim, mas há desafios.

Não há dúvida que a Inteligência Artificial é uma ferramenta também para pequenas e médias empresas. Por outro lado, ainda há dúvida sobre em que momento os projetos de Inteligência Artificial serão viáveis economicamente para este perfil de empresa.

Embora as APIs dos grandes players estejam se tornando cada vez mais populares e com baixo custo de utilização, apresentando inclusive pacotes gratuitos para uso em baixa escala, ainda há um elevado custo para desenvolver as aplicações que farão o consumo destas APIs. Em termos mais simples, a tecnologia é disponibilizada pelos grandes fornecedores, mas requer serviços profissionais para ser aplicada para a pequena empresa.

Por outro lado, existem os fornecedores de SaaS (Software como Serviço), que são os responsáveis pelos softwares em nuvem que muitas pequenas empresas já utilizam. Estes fornecedores estão trabalhando para incorporar Inteligência Artificial em seus produtos/serviços, de forma que, sem saber, as pequenas e médias empresas podem já estar utilizando Inteligência Artificial, sem sequer se dar conta disto.

I.A. vai revolucionar carreiras historicamente associadas à subjetividade humana, em campos como Educação, Medicina, Direito e Psicologia?

Sim.

Podemos dar um zoom nestas carreiras, sem ferir a análise feita acima quando falamos sobre criatividade e automação de tarefas complexas.

O que concluímos aqui é que mesmo nestas carreiras, existe um conjunto de atividades que podem (e devem) ser automatizadas. Existe uma frase célebre de Arthur C. Clarke que diz: “Um professor que possa ser substituído por um robô, deve ser substituído por um robô”. A ideia por trás desta frase é que se a atividade de um profissional pode ser descrita como uma sequência de passos, ela deve ser automatizada. Agora, isto nem de longe é uma apologia à eliminação do papel do professor, muito pelo contrário. Ela é uma provocação para que este perfil de profissional vá além dos padrões e dos algoritmos e atue profundamente com seus princípios e valores humanos.

Falando de forma mais objetiva, as tecnologias de forma geral, e a Inteligência Artificial é uma delas, devem ser utilizadas como ferramentas de empoderamento destes profissionais, retirando deles as atividades repetitivas e enfadonhas, e permitindo que eles se dediquem às atividades de maior valor agregado.

Na Medicina, um exemplo simples de aplicação seria a tecnologia atuar antes dos médicos, para priorizar o atendimento e definir quais exames/pacientes devem ser analisados primeiro.

No Direito, de forma análoga, a tecnologia pode ser utilizada para sugerir abordagens e jurisprudências relevantes a uma causa, mas dificilmente substituirá os aspectos humanos de negociação e facilitação entre as partes.

 I.A. impacta a competitividade?

Naturalmente.

Aumento de competitividade é um conceito que está por trás da grande maioria das ferramentas de automação, seja pelo aumento da escala alcançável com os mesmos recursos, seja pela redução do custo para se produzir na mesma escala.

Como a Inteligência Artificial é uma tecnologia transversal, ou seja, com aplicação em todos os segmentos, a tendência é que os empreendimentos que a adotem tenham ganhos competitivos. Muitas vezes esta adoção é iniciada por novos entrantes, que desta forma modificam toda a lógica de operação de um determinado segmento da economia. De uma forma ou de outra, empresas que saem na frente na adoção da tecnologia certa tipicamente colhem os frutos deste investimento como retorno financeiro. Mas decidir onde e como começar, além de quanto investir, é normalmente a parte mais difícil da decisão.

 Quem compra I.A. resolve todos os seus problemas?

Não é bem assim.

É comum tanto às pessoas quanto às empresas olharem para a novidade como o herói que irá salvar suas vidas. O ponto comum entre os dois cenários é que, em ambos os casos, dificilmente isto acontece.

Costumo dizer que “automatizar um processo ruim só irá fazer a coisa errada mais rapidamente”. É difícil falar sobre automação de processos e Inteligência Artificial com empresas que não tem cultura de análise de processos. Da mesma forma, é difícil discutir análise de correlações em empresas que não tem cultura decisão baseada em dados.

Outro aspecto importante desta crença em uma tecnologia salvadora é que empresas que tentam resolver todos os problemas de uma vez têm menor chance de sucesso que empresas que escolhem problemas específicos para atacar. Projetos bem sucedidos tem objetivos bem definidos e os recursos e projetos são administrados em prol deste objetivo.

Todo mundo precisa de uma estratégia de I.A. ou de um executivo de I.A.?

Não exatamente.

A grande maioria das empresas precisa de uma estratégia de tecnologia. Inteligência Artificial não deve ser considerada como uma tecnologia isolada, mas como parte de um conjunto. Naturalmente, a variedade e profundidade das competências técnicas da equipe profissional varia de acordo com o porte e o segmento da empresa, mas é importante que, na proporção adequada, a empresa tenha conhecimento sobre como a Inteligência Artificial irá impactar o seu mercado e como ela pode ser aplicada em benefício dos clientes e da empresa.

O texto acima descreve minha percepção individual sobre cada um dos tópicos, com base em pesquisa, observação e projetos. Informações mais detalhadas sobre o impacto da Inteligência Artificial na estratégia de negócios pode ser obtida neste curso online: Inteligência Artificial para Negócios.

Vinicius Soares

Obs.: As perguntas foram baseadas em uma entrevista recentemente concedida ao portal Coletiva.net. Estas são as minhas percepções sobre cada tópico. A matéria publicada contempla um apanhado geral sobre os pontos de vista de todos os entrevistados.

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